Já foi chamada de menopausa precoce e falência ovariana prematura, você conhece a IOP?
Queridos leitores, outro dia assisti um documentário impactante na BBC chamado Menopause and Me Too Young to Feel so Old. Ele conta a história de mulheres jovens, todas com menos de 40 anos e algumas na casa dos 20 e poucos anos, que entraram precocemente na menopausa. Ele retrata bem o susto e o sofrimento dessas mulheres que além de sofrerem com os sintomas desagradáveis do climatério, muitas vezes veem destruído o sonho de gerar um filho.
Resolvi então, escrever sobre esse tema, que é pouco divulgado – a menopausa que acontece em mulheres jovens, com menos de 40 anos, e que já foi chamada de menopausa precoce, falência ovariana prematura e falência ovariana precoce. Hoje o termo mais aceito é Insuficiência Ovariana Prematura (IOP).
Essa não é uma condição comum, mas pode ser muito traumática.
A prevalência de IOP aos 35 anos é 0,5% e, aos 40 anos, aproximadamente 1%. A frequência parece variar com a etnia, sendo mais frequente em mulheres de origem hispânica e Afro-Americanas (1,4%) e menos em japonesas (0,5%). A IOP geralmente ocorre depois de uma puberdade normal e ciclos regulares, sabe-se que a afecção pode ter evolução longa e variável, com ovulação irregular e imprevisível em 50% dos casos e gravidez em até 5% a 10%. Contudo, em cerca de 10% dos casos, manifesta-se como amenorreia primária, isso é, a menstruação nunca ocorreu na vida daquela menina.
O que causa a IOP?
Ela ocorre porque os ovários param de funcionar. Isso ocorre pois não há mais folículos dentro do ovário e a mulher não tem como ovular. Isso pode ser decorrente de alterações genéticas (a mulher já nasceu com menos folículos), doenças auto-imunes (o próprio sistema imune destrói os folículos), cirurgias em que os ovários são removidos ou lesionados, tratamentos de quimioterapia, radioterapia que podem levar à destruição do tecido ovariano. Existe ainda a possibilidade de infecções virais, intoxicação por metais pesados, fumo e substâncias químicas destruírem o tecido ovariano, porém ainda há a necessidade de maiores pesquisas para termos mais evidências científicas de que esses agentes possam levar à IOP.
Quando suspeitar de IOP?
O diagnóstico de IOP é baseado na história clínica, exame físico minucioso e por exames hormonais que devem ser solicitados pelo médico. A queixa mais frequente é de alteração do padrão menstrual. O fluxo e a frequência menstrual diminuem, essas queixas devem estar presentes por pelo menos 4 meses. O histórico pessoal e familiar detalhado pode chamar a atenção para situações associadas a IOP, como doenças autoimunes, tratamento quimioterápico ou radioterápico prévios e causas genéticas.
Após excluir a possibilidade de gravidez, as mulheres com ciclos menstruais irregulares devem ser avaliadas para outras causas de alterações menstruais, como por exemplo a síndrome dos ovários policísticos, além de outras alterações hormonais que possam afetar os ciclos menstruais como alterações de tireóide, hipotálamo e hipófise. A mulher com IOP pode, ou não, relatar sintomas de falta de estrogênio (hormônio feminino) como os fogachos, que são as ondas de calor, além de secura vaginal, dor na relação sexual. Alterações do humor, da sexualidade e do padrão de sono podem estar presentes e interferem de forma negativa na qualidade de vida. Todos esses sintomas são mais prevalentes em mulheres que tem o quadro agudo, isso é, ela vinha apresentando a função ovariana normal e de repente os ovários param de funcionar (como naquelas submetidas à cirurgias para retirada dos ovário em casos de quimioterapia e radioterapia).
E como deve ser o tratamento da mulher com IOP?
Os objetivos do tratamento da IOP são reverter os sintomas e reduzir as repercussões do hipoestrogenismo. Embora os sintomas vasomotores (fogachos, ondas de calor) sejam aparentemente o principal motivo de uso da TH, razões relacionadas à maior morbidade como perda óssea, doenças cardiovasculares, alteração na sexualidade e do sistema genitourinário por exemplo, não devem ser esquecidas.
O tratamento é feito através de reposição hormonal, que deve ser mantida até pelo menos por volta dos 50 anos, quando seria a idade usual da menopausa. Contudo podemos continuar por tempo mais prolongado de acordo com a situação. Outra possibilidade é a utilização de contraceptivos orais principalmente em mulheres que não desejam engravidar, pois como mencionado anteriormente, embora raramente possa acontecer a gestação, cerca de 5-10% das mulheres pode apresentar ovulação esporádica e engravidar.
É importante lembrar, que nem todas as mulheres poderão fazer a reposição hormonal, em casos de tratamento prévio para determinados cânceres, a utilização de hormônios pode estar contra indicada.
É essencial que estas pacientes tenham estilo de vida saudável, incluindo exercícios físicos resistidos (com peso), não fumar e manter peso corporal adequado. Também é muito importante o acompanhamento psicossocial, devido a repercussão que a IOP pode ter na vida de muitas mulheres.
Bibliografia
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